Moda e Consumo
Globalização, crise, alguma esperança?
VOL. I Nº II DEZ.99 pp. 35-56
Carlos Lessa *
A globalização é assumida como um processo de densificação de redes mundiais, mercantis e financeiras. Modificações na organização produtiva colocam na regência destas redes gigantescas empresas, que operam multiplantas, orquestram sub-redes satelizadas e estão presentes em praticamente todos os territórios. Capitais além-fronteira se movem com desenvoltura. A telemática, combinando eletrônica com informática, interligou, em tempo real, os mercados financeiros numa rede mundial diuturna e instantânea. À liberdade das empresas, capitais e mercadorias, ampliada nas últimas décadas, corresponde um bloqueio crescente à movimentação interpaíses de população e mão-de-obra. O social permanece nacional. A globalização preservou, e amplificou, um sistema mundial heterogêneo, com hegemonia econômica, política, tecnológica, militar e doutrinária, claramente definida e cristalizada num império que, com uns poucos parceiros menores, comanda as redes mundiais. Nestas está, igualmente demarcada, a posição da periferia, cada vez mais subordinada e distanciada dos padrões do centro do sistema.
O processo de globalização introduziu mudanças significativas nos padrões de comportamento da sociedade brasileira. Estas páginas não percorrerão as transformações econômicas, suficientemente conhecidas. O interesse aqui centra-se em mapear alterações e/ou reiterações culturais, no sentido antropológico, que sejam imputáveis à reprodução endógena de manifestações universais da globalização. O aprofundamento e a persistência, bem como a forma de superação da crise atual, serão afetadas por estes padrões de comportamento.
As mutações culturais derivadas da globalização são com freqüência rotuladas de pós-modernidade. Desnecessário lembrar que o conceito de pós-moderno é extremamente ambíguo. Em algumas leituras é visto como
* Do Instituto de Economia