Mito e Religião na Filosofia
Cassirer e a Moral Religiosa [i] Vladimir Fernandes Para se abordar sobre mito e religião na filosofia de Ernst Cassirer deve-se verificar, em primeiro lugar, como o autor concebe a ambos na perspectiva da sua “Filosofia das Formas Simbólicas”. Segundo Cassirer, mito e religião são formas simbólicas. E o que vem a ser uma forma simbólica? Para responder esta pergunta de forma mais fundamentada é necessário retroceder um pouco até o ponto de partida da sua filosofia. 1. Ponto de partida da Filosofia das Formas Simbólicas: a “revolução copernicana” de Kant
No segundo volume de sua Filosofia das Formas Simbólicas, Cassirer afirma ter realizado em sua filosofia uma ampliação da inversão kantiana. “A ‘filosofia das formas simbólicas’ adota esta idéia crítica fundamental, este princípio em que se apóia a ‘inversão copernicana’ de Kant, a fim de ampliá-lo” (1925a, p.51). [ii]Cassirer concorda com a “revolução copernicana” de Kant, mas vê nela um limite: restringir a esfera do conhecimento ao físico-matemático.
Se para Kant a ciência era concebida como um conhecimento universal e necessário, a esfera da objetividade por excelência, em Cassirer a ciência passa a ser compreendida como um conhecimento simbólico, uma “construção” simbólica em meio a outras. Nessa perspectiva, perde seu caráter universal e necessário e se coloca no mesmo patamar de outros conhecimentos simbólicos, de outras formas simbólicas. [iii]
Cassirer defende a tese que não só o conhecimento científico é um conhecimento simbólico, mas todo conhecimento e toda relação do homem com o mundo se dá no âmbito das diversas “formas simbólicas”. E o que Cassirer entende como uma “forma simbólica”? Um dos problemas que surge ao estudar Cassirer é buscar uma definição precisa do que ele entende por forma simbólica e quais são estas. No seu trabalho Essência e efeito do conceito de símbolo, resultado das conferências realizadas em 1921, encontra-se sua definição mais explícita: