Metodologia Filosófica
Anselmo de Lima Chaves1
A filosofia se vale da ciência e daquilo que é demonstrável, entretanto ela não pára no empírico e, sim, ultrapassa-o, como podemos verificar, desde o início da atividade filosófica, com Tales, que, baseando-se na observação de que “o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive” (PRÉ-SOCRÁTICOS, 1996, p.40) – “pois o quente vive com o úmido, as coisas mortas ressecam-se, as sementes de todas as coisas são úmidas e todo alimento é suculento” (idem, p.41) - ao afirmar que a “água é o princípio”2 (idem, p.41), ou seja, que “a água é a origem e como que o útero de todas as coisas” (NIETZSCHE, 2008, p.43), dirigiu-se para além do âmbito científico, pois, com tal proposição, por mais questionável que seja sua afirmativa, o que importa é que começou-se, como afirmou Hegel, “um distanciar-se daquilo que é em nossa percepção sensível; um afastar-se deste ente imediato – um recuar diante dele” (pré-socráticos, p.42). Esse distanciamento não chegou à pura abstração do “tudo é um”, ou que “o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si” (pré-socráticos, p. 42), no entanto, apesar de permanecer junto a uma expressão física - a de que a água é o princípio de todas as coisas - Tales tem o mérito de se afastar do mito e da alegoria e constituir, assim, “uma surpreendente raridade para os gregos de sua época” (NIETZSCHE, 2008, p. 46), pois, antes dele, não era comum conceber uma unidade, mas, sim, uma infinidade de princípios: todas as coisas – o sol, as montanhas, os rios – eram consideradas pela imaginação selvagem de Homero como forças autônomas, isto é, como possuindo, cada uma, um princípio próprio.
Contudo, um filósofo não apenas se dirige para além do âmbito científico, no sentido de ultrapassamento do concreto em direção ao abstrato, pois, se como o cientista, está vinculado ao real, mas diferente deste eleva-se a um ponto de vista no qual pode