Maquiavel
Com Maquiavel começou uma transformação do pensamento político cujas conseqüências não se esgotaram até hoje. Seguindo, no tocante à forma, o modelo de textos medievais, que eram chamados de “espelho dos príncipes”, Maquiavel criou uma nova maneira de se pensar o poder,que está presente em seu livro mais famoso O Príncipe. Uma característica importante dos tratados que ele parecia imitar é que eles aconselhavam os governantes a praticar todas as virtudes cristãs, para obter êxito em suas ações. Maquiavel não pretendia desqualificar a ética, como afirmaram muitos de seus críticos, mas simplesmente mostrar que a principal preocupação de um governante é adquirir e conservar seu poder, e que ele não consegue sucesso nessa empreitada se se dedicar apenas à prática das virtudes cristãs. Para ele, a ética e a política possuem relações, mas não devem ser confundidas. Um governante que pretender, por exemplo, nunca ofender seus súditos, acabará sendo considerado fraco e perdendo uma parcela de seu poder. Um governante temido, mas que sabe usar da clemência na hora certa, continuará a governar, mesmo se não for muito amado pelos habitantes de sua cidade. A principal conclusão que devemos tirar da posição defendida pelo pensador italiano é que a política tem um campo de existência próprio, com suas determinações e suas zonas obscuras, que demanda um saber diferente daquele da ética, para ser compreendido. Para estudá-la em toda sua complexidade é preciso observar variáveis muito diferentes daquelas escolhidas pelos pensadores medievais.
Um primeiro ponto fundamental da filosofia de Maquiavel é o fato de que ele acredita que toda cidade está dividida quanto à maneira como as pessoas enxergam o poder. De um lado estão os que querem ocupá-lo e lutam por isso. Muitos dos temas tratados pelo pensador estão focados nesse grupo de homens e mulheres que querem comandar os outros. O outro grupo, formado pela maioria das pessoas, e que ele chama de “povo”, por