Maquiavel
O pensamento ético de Maquiavel (ou "A ética consequencialista")
É lugar comum pensar que Maquiavel sentenciou a separação entre moral e política ao admitir a possibilidade de o sujeito praticar ações contrárias às prescrições da moral socialmente aceita. Esse entendimento, porém, carece de uma melhor análise, na medida em que o filósofo, em momento algum de sua abra, postulou contra a moral baseada em princípios, seja de inspiração socrática-platônica ou cristã. Ele apenas defendeu uma moralidade diferente voltada à superação das adversidades em determinadas situações concretas. Essa nova moralidade se baseia em valores como a coragem, vigor, fortaleza, disciplina, felicidade, força, justiça, liberdade, etc.
Em Platão e Aristóteles a moral é fim em si mesma; em Maquiavel, é meio para a realização de uma vida próspera, porém com claro escopo social. O filósofo não prescreveu que tais condutas devessem ser adotadas na vida privada.
A perspectiva de Maquiavel é pragmática. Ele não se preocupou em inverter os cânones da moral cristã. Ele apenas percebeu que o cristianismo tornara os homens inaptos para a vida terrena. Em sua análise histórica, procurou demonstrar que uma moral baseada em princípios absolutos não seria útil para a edificação de sociedades sólidas. Os antigos foram a sua inspiração, principalmente os romanos.
A virtude consistiria na realização de grandes feitos, jamais na contemplação passiva das coisas deste mundo. Nesse contexto, a religião não seria um problema, desde que não estimulasse valores que prejudicassem o exercício da VIRTÙ, compreendida como a capacidade de o homem superar a FORTUNA (adversidades decorrentes do que chamamos de azar, acaso, imprevisto, sorte, falta de sorte, etc.).
Virtù e Fortuna não são expressões próprias de Maquiavel. Já existiam na Grécia e Roma antigas. Para os romanos a Fortuna era representada de três formas distintas: na primeira delas o chifre da riqueza – a