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Mutações do trabalho e experiência urbana
Vera da Silva Telles
Já não é de hoje que se discutem os efeitos excludentes das atuais mutações do trabalho, sob o impacto da reestruturação produtiva em tempos de revolução tecnológica e globalização da economia. No entanto, ainda pouco se sabe sobre as configurações societárias que vêm sendo urdidas nas dobras dessas transformações. Entre, de um lado, os artefatos da “cidade global” sob o foco dos debates entre urbanistas e pesquisadores da economia urbana e, de outro, os “pobres” e “excluídos” tipificados como público-alvo das políticas ditas de inserção social, há todo um entramado social que resta conhecer. E é isso justamente que situa o terreno em que ganha pertinência relançar a discussão sobre os sentidos e os lugares do trabalho na tessitura do mundo social. Se o trabalho não mais estrutura as promessas de progresso social, se os coletivos “de classe” foram desfeitos sob as injunções do trabalho precário, se direitos e sindicatos não mais operam como referências para as maiorias, se tudo isso mostra que os “tempos fordistas” já se foram, o trabalho não deixa de ser uma dimensão estruturante da vida social.
Mas é isso também que abre a interrogação sobre as novas configurações sociais nas quais essa experiência se processa. Não se trata tão-somente da ampliação do mercado informal e do aumento das hostes dos excluídos do mercado de trabalho. Como mostra Francisco de Oliveira (2003), a chamada flexibilização do contrato de trabalho significa que o trabalho “sem forma” se expande no núcleo do que antes era chamado de “mercado organiza-
Mutações do trabalho e experiência urbana, pp. 173-195
do”. Na base desse processo, diz o autor, está o salto nas alturas da produtividade do trabalho em época de revolução tecnológica e financeirização da economia, de tal modo que o processo de valorização se descola dos dispositivos do trabalho