Madeira mamoré
“Construir uma estrada na floresta, na mais violenta do mundo que é a Amazônia, é uma aventura que só os grandes titãs, como Farquar, ousaram enfrentar”, afirma o historiador Francisco Matias.
Mais de 20 mil homens, de 25 nacionalidades, trabalharam na construção da linha entre Porto Velho e Guajará-Mirim, divisa com a Bolívia. Ao todo, 366 quilômetros que formaram o corredor de exportação da borracha produzida na região para a Europa e Estados Unidos pelo Oceano Atlântico através do Rio Madeira.
A velha máquina 18 foi a última a fazer o percurso. É uma relíquia para aqueles que derramaram suor durante anos trabalhando na ferrovia e que ainda cuidam dela para não virar ferrugem, como algumas esquecidas na beira dos trilhos.
Conta a lenda que cada dormente da estrada de ferro representa a morte de um trabalhador durante a construção. Por isso, ela ficou conhecida como a Ferrovia do Diabo. Não há um número oficial de mortos, mas pelos relatos da época estima-se em torno de 8 a 10 mil. Vítimas de malária, comum na região, e de doenças importadas, como cólera, escorbuto e varíola. Eles também foram vítimas de ataques de índios e de acidentes no trabalho.
A ferrovia passou para o governo brasileiro em 1931 e foi desativada em 1966. O ex-ferroviário Paulo Ramos ainda sonha em passear na maria-fumaça: “Eu sonho em ver isso aqui revitalizado, com passeio turístico, porque isso aqui chama a atração de muita gente, vem gente de fora”. INTRODUÇÃO
Há cem anos foi inaugurada a estrada de ferro Madeira-Mamoré. Com 366 quilômetros de extensão entre Porto Velho e Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia, a ferrovia foi a primeira obra de engenharia