língua portuguesa e realidade social
A VARIANTE BRASILEIRA
Elisa Guimarães (USP e UPM)
Objetivando um exercício interpretativo das linhas fundamentais da obra intitulada A Crise de nossa Língua de Cultura (Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,1983), de autoria de Antonio Houaiss, o ilustre homenageado deste Congresso, o presente ensaio tem em mira, ao considerar as vinculações entre a Língua Portuguesa e a realidade social, refletir sobre os rumos dos estudos linguísticos norteados, predominantemente, pelo binômio Língua/Sociedade.
O primeiro pensamento que nos ocorre na tentativa de desenvolver o tema proposto é o de que Língua e História representam um passado comum, uma fonte comum de vida, de pensamento, de sentimento, de cultura.
Assim, homens, organizados em pequenos ou grandes grupos, estabelecem suas formas de convivência: criam instituições e mantêm costumes e tradições. Uma malha de relações simbólicas, tecida de palavras, garante ao homem a criação de sua cultura e a configuração de sua historicidade.
A comunicação interpessoal é, pois, exigência da natureza humana e a comunicação verbal, a forma não exclusiva, porém, sim, mais generalizada do intercâmbio pessoal. Cada ser humano é, em essência, indivíduo e sociedade. Nenhuma sociedade pode ser tal sem a efetiva participação das pessoas e estas não podem realizar-se como tais senão no interior da sociedade.
A Língua e a história de sua estrutura funcional não se podem separar, portanto, da história dos falantes que a modificam, que a recriam, ao largo do tempo.
É o que sempre ocorreu com a Língua Portuguesa - considerada, segundo Antonio Houaiss (1983:50) não apenas nossa língua comum e de cultura, mas também nosso vernáculo - ou seja - a língua que se aprende no seio da família.
No dizer ainda de Antonio Houaiss, a Língua Portuguesa foi, durante largo tempo, “vista”, ideologicamente, de três modos : 1 - como portuguesa e dos portugueses (devendo, por isso, os usuários de outras origens que não