Luria-Diferencas Culturais de Pensamento
LURIA, A. R. Diferenças culturais de pensamento. In: VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.;
LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988a.
p. 39-84.
4. DIFERENÇAS CULTURAIS DE
PENSAMENTO
Não fomos os primeiros a perceber que uma comparação das atividades intelectuais de diferentes culturas poderia fornecer informações muito importantes acerca do funcionamento do intelecto humano. Por muitas décadas antes que eu encontrasse Vygotsky, já se debatia amplamente se indivíduos criados em culturas diferentes difeririam nas capacidades intelectuais básicas que viriam a desenvolver enquanto adultos. Já no começo do século,
Durkheim colocava que os processos básicos da mente não são manifestações da vida interior do espírito, ou simples resultado da evolução natural; a mente se origina na sociedade. As idéias de Durkheim formaram a base de diversos estudos e discussões. Entre os debatedores, destacava-se o psicólogo francês Pierre Janet. Janet propôs que as formas complexas da memória, assim como as idéias complexas do espaço, tempo e número, tinham sua fonte na história concreta de uma sociedade, e não eram, como acreditava a psicologia idealista clássica, categorias intrínsecas da mente.
Na década de 20, esse debate se concentrava em duas questões: se os componentes do pensamento, as categorias básicas de descrição da experiência, variavam de cultura para cultura; e se o processamento básico intelectual de informação feito pelo indivíduo humano variava de uma cultura para outra. Lucien Levy-Bruhl, que influenciou muitos psicólogos da época, colocava que o pensamento de povos primitivos e iletrados emprega um conjunto diferente de regras e operações daquele empregado pelos povos modernos. Caracterizou o pensamento primitivo como
"pré-lógico" e "frouxamente organizado". Dizia-se que os povos primitivos eram indiferentes à contradição lógica, e
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dominados