Lulismo e Bolsa
Gabriel Corrêa Pereira
A noção de Lulismo utilizada para fins deste estudo refere-se ao trabalho desenvolvido por André Singer em sua obra “Os sentidos do Lulismo – Reforma gradual e pacto conservador”1. Para o autor, o lulismo pode ser entendido como um fenômeno político no Brasil que se caracteriza por um realinhamento eleitoral cristalizado nas eleições de 2006. Assim, analisando dados eleitorais, o ponto de partida de Singer é a constatação de que, embora Lula tenha sido eleito em 2002 e reeleito em 2006 com uma votação semelhante, por uma diferença de aproximadamente 20 milhões de votos, a segmentação dos dados revela uma mudança de clivagens fundamentais do eleitorado que caracteriza o surgimento do lulismo. Antes de tratar dessas mudanças no comportamento eleitoral de parcela dos eleitores, é preciso esclarecer essa noção de realinhamento eleitoral utilizada pelo autor, que é central em sua tese. A expressão “realinhamento eleitoral” foi cunhada nos Estados Unidos e seu conceito é objeto de extenso debate na Ciência Política. Para ilustrar esse debate, é possível citar inicialmente o trabalho de James Sundquist2. Em sua obra, o autor faz uma análise histórica das eleições dos EUA posteriores à Guerra de Secessão e afirma que a dinâmica eleitoral americana, num sistema bipartidário, segue um padrão em que pode se observar algumas eleições críticas caracterizadoras de um realinhamento eleitoral capaz de perdurar por longos períodos de 30 a 40 anos. Como exemplo, tem-se o realinhamento dos anos 30, da fase do New Deal liderado por Franklin Roosevelt. Além da periodicidade, segundo a teoria do realinhamento existiriam outras características distintivas dessas eleições críticas. Nelas, haveria maior interesse e comparecimento dos eleitores; maior atividade de partidos independentes; elas estariam associadas a grandes mudanças nas políticas adotadas pelos novos governos; e haveria mudanças fundamentais