Lucio Costa

2654 palavras 11 páginas
Documentação necessária
1938
“Vendo aquelas casas, aquelas igrejas, de surpresa em surpresa, a gente como que se encontra, fica contente, feliz, e se lembra de coisas esquecidas, de coisas que a gente nunca soube, mas que estavam lá dentro de nós”.
(1929)
(Parágrafo de um texto escrito a pedido de Manuel Bandeira para edição comemorativa de um jornal mineiro e citado em ‘
Grande e Senzala” de Gilberto Freyre.)

A nossa antiga arquitetura ainda não foi convenientemente estudada. Se já existe alguma coisa sobre as principais igrejas e conventos — pouca coisa aliás, e girando, o mais das vezes, em torno da obra de Antonio Francisco Lisboa, cuja personalidade tem atraído, a justo título, as primeiras atenções —, com relação à arquitetura civil e particularmente à casa, nada ou quase nada, se fez. Compreende-se, pois, que surjam, de vez em quando, a respeito dela apreciações menos rigorosas. Ainda há pouco, em artigo sobre A arquitetura no Brasil, afirmava-se: “... as casas individualmente nada valem como obra de arquitetura...”, citando-se a seguir em apoio de tal asserção este período do Sr. Aníbal Matos: “Fundadas to das as casas por portugueses incultos, trouxeram de suas aldeias o tipo desproporcionado e sombrio das velhas construções.” Ora, a arquitetura popular apresenta em Portugal, a nosso ver, interesse maior que a
“erudita”— servindo-nos da expressão usada, na falta de outra, por Mário de Andrade, para distinguir da arte do povo a “sabida”. E nas suas aldeias, no aspecto viril das suas construções rurais a um tempo rudes e acolhedoras, que as qualidades da raça se mostram melhor. Sem o ar afetado e por vezes pedante de quando se apura, aí, à vontade, ela se desenvolve naturalmente, adivinhando-se na justeza das proporções e na ausência de “make-up”, uma saúde plástica perfeita, — se é que podemos dizer assim.
Tais características, transferidas na pessoa dos antigos mestres e pedreiros “incultos” para a nos sa terra, longe de

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