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musas: memórias e temporalidades
Concebidos e emoldurados ao longo dos tempos por diferentes abordagens, tanto o tempo quanto a memória sempre foram alvo do interesse e da busca de compreensão por parte dos homens. Um estudo sobre a imortalidade a partir das nove Musas da mitologia grega
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O
tempo-memória é um rio com estratos lentos, gradativos e descontínuos em diversos graus de profundidade. Pode indicar as profundezas da alma humana, assim como superfícies muito planas e automatizadas pelo hábito. Outras vezes, o tempo-memória indica labirintos esfumaçados por camadas de neblina. Pode ser também indicado por espirais móveis. O tempo-memória, muitas vezes, é espelhado por graus de imobilidade e fixidez. O tempo-memória pode ser imobilidade pura. Absoluta.
A memória e o tempo, nos dias atuais, sob múltiplas perspectivas, são, de alguma maneira, concebidos à luz das mais diversas áreas do conhecimento. Contudo, temos que admitir que a maioria das discussões a respeito do assunto encontra-se no âmbito das ciências que não necessariamente respondem de maneira satisfatória às principais indagações colocadas pela humanidade. O tempo, sob a óptica da Física, por exemplo, é colocado enquanto medida, não
enquanto ser. Nessa perspectiva, apenas como uma forma abstrata, vazia de expressividade. O em si do tempo escapa. A medida, a cronologia e a sucessão são formas indiretas de conceituar o tempo seguindo uma lógica construída.
Giórgos Seféris (1900-1971), escritor grego moderno, afirmou, em diversos momentos, que quando visitava ruínas que tiveram origem na Antiguidade Grega experimentava uma verdadeira abolição temporal. Sentia-se, nesses momentos, muito próximo dos deuses e divindades registrados por Homero e Hesíodo. Sentia-se, intensamente, simultâneo a todos os tempos.
A Mitologia grega, conforme se sabe, presente até hoje na cultura ocidental, teve suas divindades representativas de