Livro bocatorta
cor de telha que, maturado, se esbruga em paina esvoaçante. Corre entre seus talos a batuíra de longo bico, e saltita pelas hastes a corruíra-do-brejo, cujo ninho bojudo se ouriça nos espinheiros marginais. Fora disso, rãs, mimbuias pensativas e, a rabear nas poças verdinhentas de algas, a traíra, esse voraz esqualozinho do lodo. Um brejo, enfim, como cem outros. Notabiliza-o, porém, a profundidade. Ninguém ao vêlo tão calmo sonha o abismo traidor oculto sob a verdura. Dois, três bambus emendados
que lhe tentem alcançar o fundo subvertem-se na lama sem alçar pé. Além de vários animais sumidos nele, conta-se o caso do Simas, português teimoso que, na birra de salvar um burro já atolado a meio, se viu engolido lentamente pelo barro maldito. Desd'aí ficou o atoleiro gravado na imaginativa popular como uma das bocas do próprio inferno. Transposto o abismo, a vegetação encorpa, até formar a mata por cujo seio corre a estrada mestra da fazenda.
Na manhã daquele dia passara por ali o trole do fazendeiro, de volta da cidade. Além do velho, de sua mulher Don'Ana e de Cristina a filha única, vinha a passeio o bacharel Eduardo, primo longe e noivo da moça. Chegaram e agora ouviam na varanda, da boca do Vargas, fiscal, a notícia do sucedido durante a ausência. Já contara Vargas do café, da puxada dos milhos e estava na criação. - Porcos têm sumido alguns. Uma leitoa rabicó e um capadete malhado dos "Polancham", há duas semanas que moita. Para mim - ninguém me tira da cabeça - o ladrão