boca torta
A ambientação do conto, no interior do país, traz, além da marca da vivência do escritor, também a marca da “literatura do medo”4 no Brasil do século XIX e início do século XX, que tem como espaço principal, o ambiente rural: “A quarto de légua do arraial do Atoleiro começam as terras de igual nome, pertencente ao major Zé Lucas. A meio entre o povoado e o estirão das matas virgens.” (LOBATO: 1961, p. 215)
A grandiosidade de dimensões do “famoso pântano” representada no início da narrativa, por exemplo, é, segundo Edmund BURKE (1993)5, uma fonte poderosa do sublime. O pântano de Lobato nos é revelado não como um monstro em si, mas como um ambiente propício a ocorrências monstruosas:
Em seguida, somos apresentados aos personagens centrais do conto: major Zé Lucas, sua esposa Don ́Ana, sua filha única Cristina e o primo-noivo da moça, Eduardo. Para romper com a tranquilidade da narrativa surge o fiscal da fazenda de Zé Lucas, Vargas, contando sobre o sumiço de porcos, e fazendo referências ao personagem que dá nome ao conto, Bocatorta. Vargas, com ojeriza, atribui a Bocatorta a responsabilidade do roubo dos porcos: “– o ladrão foi o negro... é preciso tocar de lá o raio do maldelazento. Aquilo, Deus que me perdoe, é bicho ruim interado.” (IBID., p. 216)
A narrativa tem como principal mola impulsionadora a curiosidade. Eduardo, primo e noivo de Cristina, mora na cidade grande e, ao escutar a história, fica curioso em saber um pouco mais da “criatura”. Major Zé Lucas, como em uma espécie de prelúdio, é quem descreverá, de forma peculiar, a personagem, parecendo nos alertar sobre o que está por vir. A descrição de