URUPES An Lise

ANÁLISE URUPÊS – MONTEIRO LOBATO

Ludiani Trentin¹

Na época da disseminação literária conhecida como a fase de transição Pré-Modernista, o Rio de Janeiro passava por diversas mudanças que alterariam não só o espaço geográfico, quanto também a literatura; na tentativa de “embelezar” a cidade carioca, tentou-se reproduzir a um pedaço da França, expulsando as classes inferiores e as afastando do grande centro.
Monteiro Lobato, em alguns contos destinados ao público adulto, insere essa população excluída e marginalizada em sua obra. No livro Urupês, pode-se analisar como o autor trata a questão de alteridade dessa população em relação com o contexto histórico da época. Para isso, serão analisados, os contos Urupês, com a temática do caboclo, e Bocatorta, trazendo a questão do negro.
A nível de conceitualização, pode-se dizer que na literatura o termo alteridade refere-se a algo que está sempre em construção, é a formação da identidade do outro baseado nos aspectos culturais, socioeconômicos, étnicos e na relação deste com o narrador.
No conto Urupês, o narrador é apenas um observador da história e também a única voz presente, dessa forma, a alteridade da personagem Jeca Tatu dá-se em relação à sua consciência e é, de certa forma, coisificada por essa ideologia, a personagem vive isolada e não mantém relação com o narrador. Essa alteridade é formada por uma monologia segundo afirma Michael Bakhtin

“[...] o autor concentra em si mesmo todo o processo de criação, é o único centro irradiador de consciência, das vozes, imagens e pontos de vista do romance: “coisifica” tudo, tudo é objeto mudo desse centro irradiador. [...] Pretende ser a última palavra. Fecha em seu modelo o mundo representado e os homens representados. [...]” (pág. 192)

Há claramente a percepção que o sujeito da história é o narrador, mesmo que não esteja identificado, e este mantém certa distância da personagem, o caboclo representado nessa obra assume as características dos caboclos brasileiros