Pesquisa
Cristiane Vieira G. Cardaretti2 José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), ou simplesmente Monteiro Lobato, foi um homem de múltiplas atividades. Graduou-se em Direito, porém logra pouco tempo como promotor. Passa então a dedicar-se à agricultura, no Vale do Paraíba, onde trava contato com os caboclos do local, fato que irá reverberar em suas obras literárias. Em 1917, Lobato inicia sua investida na atividade de editor e em 1918 lança seu primeiro livro. “Bocatorta” é apresentado em seu livro de estréia, Urupês3, uma coletânea composta por doze contos e dois artigos, direcionados ao público adulto. A obra se torna um fenômeno de vendas e crítica. A fortuna crítica lobateana concorda que os contos reunidos nesse livro trazem a experiência vivida pelo autor na época em que era fazendeiro no Vale do Paraíba A ambientação do conto, no interior do país, traz, além da marca da vivência do escritor, também a marca da “literatura do medo”4 no Brasil do século XIX e início do século XX, que tem como espaço principal, o ambiente rural: “A quarto de légua do arraial do Atoleiro começam as terras de igual nome, pertencente ao major Zé Lucas. A meio entre o povoado e o estirão das matas virgens.” (LOBATO: 1961, p. 215) A grandiosidade de dimensões do “famoso pântano” representada no início da narrativa, por exemplo, é, segundo Edmund BURKE (1993)5, uma fonte poderosa do sublime. O pântano de Lobato nos é revelado não como um monstro em si, mas como um ambiente propício a ocorrências monstruosas:
Notabiliza-o, porém, a profundidade. Ninguém ao vê-lo tão calmo sonha o abismo traidor oculto sob a verdura. Dois, três bambus emendados que lhe tentem alcançar o fundo subvertem-se na lama sem alçar pé. Além de vários animais sumidos nele, conta-se o caso do Simas,
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LOBATO, Monteiro. Bocatorta. In: ___. Urupês. (Obras completas, vol. 1). São Paulo: Brasiliense, 1961. (pp. 215-231) 2 Mestranda em Literaturas de Língua Inglesa na Universidade