literatura
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Linguagem & poder
Mesmo os gritos de um recém-nascido são orientados para a mãe (Mikhail Bakthin)
O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato lingüístico
(Pierre Bourdieu)
A linguagem é o arame farpado mais poderoso para se garantir o poder (Maurizio Gnerre)
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Ao longo da história da humanidade, as dominações militares sempre foram seguidas da imposição de idiomas. No período mais intenso das colonizações, em especial, essa estratégia se tornou recorrente – e eficiente.
Afinal, para impor sua hegemonia política e social, os colonizadores tinham que manter o domínio ideológico, cultural, religioso e, sobretudo, lingüístico.
Quando os portugueses começaram a colonizar o Brasil, por exemplo, os idiomas predominantes eram indígenas, como tupi, guarani e tupinambá. Com a chegada de escravos vindos de diferentes partes da África, estima-se que mais de 300 dialetos africanos conviveram simultaneamente no território brasileiro. O número de línguas faladas era tão elevado que uma das principais dificuldades na articulação dos quilombos era justamente a comunicação entre seus integrantes, sendo necessária, inclusive, a presença de intérpretes em diversas oportunidades (Carboni & Maestri, 2005). Para impor sua hegemonia e criar uma espécie de identidade nacional, Portugal teve como grande trunfo a consolidação do Português como idioma oficial.
O processo era simples: a administração local passava a utilizar apenas o idioma do colonizador, bem como as instituições implantadas, como tribunais e escolas. Assim, os colonizadores promoviam um processo de seleção lingüística por meio de decretos, ações políticas e do sistema escolar (Viana, 2004). Nas capitanias, aos domingos, durante os sermões, caso houvesse um só cristão que desconhecesse o tupi, o sermão realizava-se em português, ainda que boa parte
dos