Literatura e sociedade
A relação entre literatura e sociedade é o tema do qual resulta o livro de Antônio Candido dividido em duas partes: a primeira procura, de um ponto de vista geral, estabelecer um propósito da investigação da relação entre a obra de arte (especialmente, a literatura) e os fatores sociais; a outra lida com esta mesma relação, entretanto, sob vários aspectos, à experiência social brasileira.
A abordagem de Candido toma a obra como uma estrutura orgânica (sem qualquer concessão a uma posição próxima ao estruturalismo), articulada por um conjunto de fatores. Apenas na fatura de cada obra e, por conseguinte, analisada em si própria, como objeto singular é que se poderia investigar o relacionamento dinâmico entre estes. Do ponto de vista da crítica, interessaria desnudar este vínculo, a partir do qual já não tem prioridade a natureza de cada fator, social e psicológico, uma vez que todos eles se transformam em elementos estéticos, combinando-se. Em outros termos, a superação das leituras externa e interna é viabilizada pela categoria da transfiguração, por intermédio da qual fatores externos se convertem em internos; movimento que consiste de estilização formal, executada pelo escritor, recriando e reconstruindo o mundo a seu modo. Assim, o trabalho literário sempre impõe um sentido próprio, imaginário, à realidade, não se assemelhando, por conseguinte, à reprodução mecânica de evidências, fatos e instituições da ordem social. Entre mundo e obra, há um sujeito ativo (sua visão de mundo, intenções, recursos etc.), combinando, de modo mais ou menos feliz, dados que passam a ser – indistintamente – elementos da estrutura.
Contudo, salienta o autor, a obra também não emerge num vazio de determinações sociais, uma vez concebida a literatura (a rigor, qualquer arte) como um sistema simbólico de comunicação social e no qual, por essa razão, estão implicados autor, obra e público. Se esse é o caso, a literatura é atividade coletiva,