Literatura - Poesia Camões
Amor é fogo que arde sem se ver; A
É ferida que dói e não se sente B
É um contentamento descontente; B
É dor que desatina sem doer. A
É um não querer mais que bem querer; A
É um andar solitário entre a gente; B
É nunca contentar-se de contente; B
É um cuidar que se ganha em se perder. A
É querer estar preso por vontade C
É servir a quem vence o vencedor, D
É ter com quem nos mata lealdade. C
Mas como causar pode seu favor D
Nos corações humanos amizade; C
Se tão contrário a si é o mesmo amor? D
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Soneto a quatro-mãos (Vinícius de Moraes)
Tudo de amor que existe em mim foi dado A
Tudo que fala em mim de amor foi dito B
Do nada em mim o amor fez o infinito B
Que por muito tornou-me escravizado. A
Tão pródigo de amor fiquei coitado A
Tão fácil para amar fiquei proscrito B
Cada voto que fiz ergueu-se em grito B
Contra o meu próprio dar demasiado. A
Tenho dado de amor mais que coubesse C
Nesse meu pobre coração humano D
Desse eterno amor meu antes não desse. C
Pois se por tanto dar me fiz engano D
Melhor fora que desse e recebesse C
Para viver da vida o amor sem dano. D
Eu cantarei de amor tão docemente
(Luís Vaz de Camões)
Eu cantarei de amor tão docemente, A
Por uns termos em si tão concertados, B
Que dois mil acidentes namorados B
Faça sentir ao peito que não sente. A
Farei que Amor a todos avivente, A
Pintando mil segredos delicados, B
Brandas iras, suspiros magoados, B
Temerosa ousadia, e pena, ausente. A
Também, Senhora, do desprezo honesto C
De vossa vista branda e rigorosa, D
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. E
Porém para cantar de vosso gesto C
A composição alta e milagrosa, D
Aqui falta saber, engenho, e arte. E
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Soneto de Fidelidade