Literatura de viagem
Nos primeiros meses de pesquisa, antes de nos debruçarmos sobre a obra de
Fernão Mendes Pinto, começamos com textos teóricos, densos e informativos que nos auxiliaram a lidar com uma obra como a de Fernão que, embora lembre vários gêneros, ora literatura, ora história, não se enquadra em nenhum deles. O relato de Fernão
Mendes Pinto deve ser tratado, então, como um meio de formulação da realidade, como uma construção que opera ora com o real, ora com o imaginário em um mundo que por sua vez, cada vez mais exigia uma separação discursiva entre história e ficção. Porém, antes de se tentar entender essa relação entre o real e o imaginário existente na obra de
Fernão Mendes Pinto, nos era necessário poder entender e perceber que a oposição entre realidade e ficção, que faz parte do nosso saber tácito, é algo que pode ser discutível.
Precisávamos saber, antes de tudo se os textos ficcionais eram de fato tão ficcionais e se os que não eram por assim dizer ficcionais se apresentavam isentos de ficção.
Para tentar conseguir responder a esse questionamento, que se faz necessário para o desenvolvimento de nossa pesquisa, li um texto de Wolfgang Iser intitulado: Os atos de fingir ou o que é fictício no texto ficcional. Nesse texto, Iser quando faz a formulação do fictício, entra em contato com a teoria da mimesis (sendo a mimeses definida a partir do texto por um sistema de representação que sofre a intervenção do leitor, isto é, que é produzido quando o leitor atualiza os dados da obra que lê) já que pressupõe o contato entre os três níveis de oposição: o real, o fictício e o imaginário. A inversão dessa polaridade básica, só pode ser operada pelo fictício que assim se definiria. A partir da leitura e discussão feitas sobre o texto, pudemos compreender que
ficção