Modos de Viagem na Literatura Portuguesa
Isadora de Araújo Pontes
A viagem, seja nos relatos do século XIV, ou nos textos da contemporaneidade, aparece repetidas vezes na literatura portuguesa, a diferença está nos modos de abordá-la. Dentre esses modos, serão destacados e analisados neste trabalho aspectos de cinco deles: A viagem épica, presente n'Os Lusíadas de Camões; as fraturas da viagem épica e a viagem de caráter incerto na obra Mensagem de Fernando Pessoa; a viagem pela cidade, no poema “O sentimento dum ocidental” de Cesário verde; a viagem para dentro de si, em Mário de Sá Carneiro; e as reflexões sobre as viagens em Mar Novo, de Sophia de Mello Breyner Andrensen. Os Lusíadas é uma epopeia que tem como ação central a viagem de Vasco da Gama, além de uma série de narrativas secundárias que contam a história de Portugal. Através do protótipo de herói personificado em Vasco da Gama e do relato da consolidação de Portugal como nação, Camões cria um discurso grandiloquente, nacionalista e etnocêntrico que constrói a ideia de predestinação do povo português: “As armas e os barões assinalados/Que da Ocidental praia Lusitana,/Por mares nunca dantes navegados/Passaram ainda além da Taprobana,/Em perigos e guerras esforçados/Mais do que prometia a força humana/E entre gente remota edificaram/Novo Reino, que tanto sublimaram” (Camões, p.17). Já nesses versos iniciais está anunciada essa ideia de povo escolhido - “barões assinalados” - a obter sua glória através das viagens que levam a conquista de um “Novo Reino”, e a consequente dominação e subjugação de outros povos e territórios. Contudo, a epopeia camoniana não é em todos os momentos um canto de exaltação à viagem e ao passado e futuro do povo português, como mostra o canto IV, no qual aparece o velho do restelo. Esta figura representa não a predestinação, mas a experiência que critica a ânsia pela fama e propõe uma “não-viagem”, funcionando como uma espécie de desconstrução do discurso