Literatura Comparada
CAMPO EPISTEMOLÓGICO DE ANSIEDADES E
INCERTEZAS
Anselmo Peres Alós∗
ABSTRACT: this paper aims at discussing some critical points when it comes to the development of the comparative literature from its origins until the contemporary anxieties of the discipline. It is also discussed here some of the non-eurocentric theoretical contributions, which are extremely relevant to the discipline in these times hauted by the epistemic incertitudes of the 21st century.
KEYWORDS: comparative literature, canon, history, theory
DAS ORIGENS DE UM CAMPO EPISTEMOLÓGICO
Um vislumbre pela história da constituição do comparatismo como campo de investigação nos estudos literários evidencia suas conexões, desde suas origens até as suas tendências contemporâneas, de seus estreitos vínculos com as políticas da produção cultural. Ao longo das últimas décadas, a literatura comparada ramificou-se, ampliando seu campo de forma a dar conta das relações entre culturas distintas, bem como dos diferentes extratos culturais de uma mesma comunidade discursiva identificada sob a égide da categoria nação. Nos seus mais recentes desdobramentos, os estudos comparatistas começam a questionar as definições hegemônicas e historicamente consagradas sobre os limites do campo literário, sobre a legitimidade dos discursos teóricos que tomam a literatura como objeto, e sobre o papel do ensino de literatura nas universidades (SCHMIDT, 2005, p. 113-130).
Desde as primeiras décadas do século XIX, intelectuais do porte de Mme. de
Staël preocuparam-se com a necessidade de se conhecer as literaturas e as culturas estrangeiras a partir de um viés que tomasse a comparação como princípio epistemológico. Se a noção de Weltliteratur, formulada por Goethe, pode ser questionada hoje pelas suas tendências eurocêntricas, nos princípios do século XIX (no apogeu das crenças positivistas) ela se mostrava como um primeiro passo em direção à compreensão da