Budapeste narra a história de José Costa, ghost-writer que vive no Rio de Janeiro com sua mulher, Vanda, uma apresentadora de telejornal, bonita, superficial, típica representante do consumismo, do imediatismo e desse mundo feito de aparências e espelhos. Sendo um autor anônimo, ele escreve para o outro duplamente, pois não escreve somente para o leitor, como também para um segundo autor, aquele que será institucionalizado como o legítimo autor do livro, na esfera pública. Chamado a escrever um romance autobiográfico para o alemão Kaspar Krabbe, ele compõe “O Ginógrafo”. O livro narra a visão da cidade a partir da experiência amorosa do alemão com a Teresa, uma mulher brasileira onde escreveu as suas primeiras palavras da língua nativa. O sexy da linguagem nos é feita, com a promessa do que esperamos do discurso, de suas frases, com aquilo que nos seduz. O protagonista imagina suas frases na boca, no corpo do outro, sendo dita, lida e interpretada por um indivíduo que não era ele. É dessa mesma maneira que não é o outro quem se apossa de sua escrita, mas é ele quem se apossa. Assim, a autoria passava por uma relação domiciliar. Era como se ele escrevesse em um espaço que não é seu, na casa, no território de outra pessoa. Após inventar a história do cliente, escrever frase por frase, ele as repetia, colocando-se no lugar do dele, como se fosse o outro, imaginando suas frases na boca daquele indivíduo. Ao mesmo tempo em que José Costa escrevia (metaforicamente) com o corpo do alemão, com o seu modo de ver o Rio de Janeiro e aquela língua que lhe era estranha, Kaspar Krabbe, por sua vez, escrevia o seu livro no corpo de Teresa e, posteriormente, no corpo das estudantes, das prostitutas e das outras mulheres com as quais se relacionou no Brasil. José Costa, após acabar de escrever o livro, estabelece um contrato, que dá ao Krabbe, os direitos autorais, consensualmente. O livro se arquiva, desse modo, numa relação perigosa que oscila entre o secreto que pode se tornar