Linguagens
A filosofia de Baruch de Espinosa e o pensamento complexo
Humberto Mariotti
Espinosa bem sabia que nem todo mundo pode fazer filosofia. (...) Fazer filosofia tem uma causa; não fazer, também. Uma das causas da não-filosofia é que a regra, em uma sociedade, é antes a superstição, a servidão e a obediência, em vez do conhecimento, da liberdade e da compreensão (André Scala)
Introdução
O propósito deste ensaio é mostrar que vários dos insights que hoje fazem parte de teorias importantes da atualidade já se encontravam, no século 17, no pensamento de Espinosa.
O pensamento complexo, em especial o concebido por Edgar Morin, é uma dessas teorias. No entanto, desde já ressalvo que não pretendo de modo algum reduzir Espinosa ao pensamento complexo nem o contrário. Busco apenas pontos comuns, os quais, como se verá ao longo do texto, existem e têm importância, pois Espinosa influenciou — em alguns casos profundamente — muitos dos que viriam depois dele. Não poderia deixar de ser assim, aliás, se considerarmos a ousadia, a postura em muitos aspectos radical e o rigor conceitual com que ele desenvolveu suas idéias. Por tudo isso, é quase certo que quem tem interesse pelo pensamento complexo cedo ou tarde acabe por se interessar também por Espinosa.
História
A partir de 1492, ano da descoberta da América, os judeus que viviam na Espanha viram-se no seguinte dilema: converter-se ao cristianismo ou ser expulsos do país, não sem antes de ter seus bens confiscados. Diante dessas circunstâncias, a família Espinosa emigrou para Portugal, sua terra de origem, imaginando que assim resolveria o problema. Mas sua tranqüilidade não durou muito: poucos anos depois, viu-se na mesma situação.
Por isso, os Espinosas decidem emigrar de novo. Vão primeiro para Nantes, na França, e depois para Amsterdã, onde nasce Baruch, em 21 de novembro de 1623. Essa época ficou conhecida como o Século de Ouro da Holanda. Entre outras figuras