A linguagem é extremamente importante no desenvolvimento mental e intelectual do ser humano. Através dela, desenvolvemos novas e cada vez mais complexas funções mentais, que serão reforçadas pela natureza das experiências sociais a que as crianças se acham expostas. A linguagem é um dos instrumentos que a criança utiliza para apropriar-se da realidade à sua volta, exercendo um papel estruturante do sujeito na medida em que permite uma interação entre interiorização e transformação. Dessa forma, ao mesmo tempo que indivíduo integra-se no meio social, é capaz de posicionar-se frente a ele, sendo seu agente crítico e transformador. A visão de mundo difundida em um meio social desprivilegiado e a conseqüente forma dos adultos interagirem com as crianças desse meio difere substancialmente da forma de interação com crianças pertencentes às classes dominantes, pois estas têm acesso a informações, viagens, computadores, livros, cursos, enfim, uma série de instrumentos que aquelas sequer sonham. A linguagem é um dos principais fatores no desenvolvimento das funções mentais superiores, tais como: capacidade de solucionar problemas, armazenamento e uso adequado da memória, formação de novos conceitos, desenvolvimento da vontade, etc. Conforme pode-se observar, crianças pertencentes a classes sociais menos favorecidas vêem-se vítimas de um círculo vicioso, pois ao mesmo tempo em que não têm um ambiente favorável para um desenvolvimento lingüístico satisfatório, não conseguem desenvolver um posicionamento crítico frente ao mundo por não possuírem a mesma capacidade de compreensão das crianças mais ricas. Esta diferença social é um dos motivos de fracassos em escolas públicas, normalmente freqüentadas por crianças pobres. Segundo Soares, há diferentes teorias que tentam, de forma supostamente científica, explicar tais fracassos. Além da “ideologia do dom”, que tenta justificar os problemas escolares dizendo que todos têm oportunidades iguais, porém, não possuem as mesmas