Linguagem literária
A literatura é uma arte, uma manifestação estética de grande valor. E como toda arte, possui um objeto estético, aquilo que está presente no mundo e que deve ser recriado. A literatura recria as palavras. É por isso que costumamos enunciar a Literatura como a arte da palavra.
Há muitas coisas além desta breve definição. Não é válido afirmar que a Literatura é a arte da palavra sem antes compreender o que é arte. Pois, se Literatura é uma manifestação artística, é de vital importância o entendimento da palavra arte para que, então, seja possível trabalhar com os conceitos de Literatura.
O mundo real está repleto de coisas: pessoas, animais, plantas, matéria inanimada etc. E todos nós somos capazes de perceber a existência e a utensilidade dessas coisas. Acontece que a percepção de toda a matéria existente é algo muito comum, uma visão profundamente automatizada, que almeja sempre a utensilidade dos objetos. É justamente neste ponto em que a arte atua: ela amplia a nossa percepção da realidade, desautomatizando os objetos e dando a eles uma percepção singular. Para o artista singularizar a noção de realidade, precisa ser movido pela percepção estética, ter um olhar desautomatizador.
A palavra é o material primordial da literatura, constituindo seu objeto estético. Acontece que, mesmo a palavra precisa ser desrealizada e recriada. No cotidiano, a palavra é um mero utensílio que serve para comunicar idéias e pensamentos, ou seja, é um signo lingüístico formado por um significado e seu respectivo significante. É deste uso que se servem as linguagens históricas, filosóficas e científicas. Todavia, depois que o processo da mímesis atua sobre a palavra, desrealizando-a e recriando-a, esta deixa de ser um utensílio e passa a constituir um objeto artístico. Deixa de ser apenas um signo lingüístico para tornar-se uma imagem, um signo literário.
Neste signo literário, um único significante tem vários significados e mesmo o significante significa.