Liderança
O conjunto de transformações estruturais, sociais e culturais pelas quais as organizações contemporâneas vêm passando sugere uma nova dinâmica no exercício da influência e uma renovação nas formas de conceber e analisar tal exercício. Este artigo explora as sutilezas dessa dinâmica, desenvolvendo um esquema teórico que considera os fenômenos de liderança e de identificação em sua complementaridade. A influência do líder se explica pelo ordenamento significativo da realidade das pessoas que, simultaneamente, se identificam e consentem em tal influência. Ambos os fenômenos de liderança e identificação mobilizam e articulam poder, mas também recursos cognitivos e emocionais. Este esquema conceitual permite então uma avaliação mais acurada e atual da liderança como processo dinâmico que envolve: (1) não só questões políticas, mas também cognitivas e emocionais; (2) não só ordenamento, mas também reconhecimento e consentimento.
INTRODUÇÃO
A liderança, como campo teórico e empírico de pesquisa, tem-se desenvolvido de maneira variada, dependendo das concepções e preferências metodológicas adotadas pelos pesquisadores. Talvez o aspecto mais controverso deste campo de pesquisa se refira aos diferentes (e em parte contraditórios) fundamentos epistemológicos que recortam e embasam os estudos sobre liderança (Hunt et al., 1988). Na sua globalidade, essas distinções são marcadas pelos focos de análise utilizados, que privilegiam segmentadamente os traços do líder, o seu comportamento, os aspectos relacionados ao poder e à influência ou os fatores situacionais (Yukl, 1989; Aubert, 1991; Yukl e Van Fleet, 1992). Para alguns, dentro desta segmentação de análises, a liderança transformacional e carismática - assunto popular na década de 80 - se torna uma abordagem híbrida que envolveria elementos de diversas abordagens (Yukl, 1989; Yukl e Van Fleet, 1992), mas que não daria conta de articular e atualizar o prisma vasto e às vezes divergente de abordagens teóricas.