Licenciatura
- Alô? Quem tá falando? — Aqui é o ladrão — Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
Nesse trecho nota-se uma das características marcantes da crônica: a irônia. — Não, os funcionário tá tudo refém. — Há, eu entendo. Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles?
Novamente o narrador utiliza a ironia de forma humorística, para descrever fatos do cotidiano do trabalhador brasileiro. — Impossível. Eles tá tudo amordaçado. — Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
Este trecho as palavras em negrito reforça a política vivenciada pelos trabalhadores, a qual é denunciada sarcasticamente pelo cronista. — Claro que não mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais seguro pra se comandar assalto!
— Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta... — Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero!
As marcas dialógicas mermão, inguinorânça, tamo e ô bacana indicam ao leitor qual a imagem social e regionaldo personagem através de sua fala.
— Não, isso eu já sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro. — Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra Brasília.
Nesse diálogo percebemos novamente o tom de ironia empregado na fala: “... eu sou um ladrão pé-de-chinelo”, e eufemismo quando um dos