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1.1. A busca dos novos saberes
Quando tive oportunidade de estar em uma das comunidades indígenas no Acre, fiz uma pergunta para uma grande mestre idosa índia com o acompanhamento da interpretação em Libras. A pergunta era sobre como ela entendia o projeto índio surdo e a questão em que se encontram quando os jovens estudantes índios vêm tendo processo de uma formação dentro da pedagogia indígena, sabendo que sempre foi uma exigência do sistema aplicado da pedagogia urbana, conhecida como
“pedagogia dos brancos ou dos não índios”. Ela me respondeu: “para ser aceita e sobreviver, precisei adotar a cultura dos não índios deixando de lado a minha cultura indígena; precisei aprender a língua do outro e esquecer a minha, pois a língua deles tem mais poder de vida lá fora do que a minha; precisei da pedagogia dos não índios, pois o meu sistema dentro da pedagogia indígena não tinha a
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mesma validade que o deles. Hoje, vejo os jovens índios sem saber relatar o seu passado histórico por desconhecerem o valor cultural que os mesmos têm. Os brancos que ontem vieram para colocar a sua língua nos índios vêm hoje trazer de volta a língua que nos tiraram, anseiam por que os índios voltem e reconstruam sua origem”.
O índio surdo está no meio disso tudo. Você o encontra, cria uma comunicação e o viver indígena continua. Ele sempre acaba indo para fora para ser atendido em suas necessidades específicas ou fica aqui sem espaço de construção linguística como os demais índios e não índios que estão se desenvolvendo lá fora.
E, assim, comparando os índios com os surdos, digo que nós surdos tivemos que deixar de “ser surdos” e passar a ser ouvintes, pois “ser ouvinte” é ser aceito. Tivemos que arrancar e esconder a nossa cultura surda e a nossa Língua de Sinais porque era a parte das exigências para dar status a uma única língua oral, pois para eles a língua espontânea dos surdos era a errada.