Levinas
O objectivo deste trabalho é analisar como a proposta de Emanuel Lévinas “inaugura”, através da ética como “filosofia primeira”, uma nova noção de humanidade: ser humano é “ser-para-outrem”, um “outro modo que ser”. Com efeito, o filósofo “inverte” a tradicional concepção da ética como “método ou objecto de estudo” com o objectivo de determinar princípios para agir ou virtudes tendo em vista fins desejáveis, operando uma “inversão” da questão ontológica: o indivíduo é produto das suas experiências num mundo onde o outro existe, sendo através dele que tem a “primordial” consciência de existência, dos seus próprios limites, em radical separação; relação assimétrica de absoluta alteridade.
O ponto de partida de Lévinas – à semelhança de Descartes -, é o universo desse eu face a esse outro; mas que num primeiro momento opera um apoderar-se, na tentativa de transformar o estranho sua imagem, num movimento de “retorno” a si mesmo através da representação, que formula a alteridade a partir dos termos propostos pela subjectividade.
Por isso, a ética leviansiana implicará uma “transmutação” do ser – no sentido negativo que lhe atribuiu -, para se “elevar” a um “acontecimento” fundado na responsabilidade; acontecimento esse que ocorre no quotidiano, no encontro “pessoal” num sentido estrito, em que um eu “cor-responde” ao apelo do Rosto do outro que o interpela.
Seguidor da fenomenologia de Husserl, fundamentada na ideia de que a intencionalidade, movimento para a alteridade do mundo, é a parte “essencial” da consciência, “aproveita” essa mesma abertura de sentido, até aí inviabilizada pelo domínio do objecto abstraído do seu contexto fenomenológico1.
Por outro lado, a dimensão existencial atribuída por Heidegger à fenomenologia torna-se determinante no seu projecto, pelo carácter revelador de uma nova diversidade nos fenómenos de consciência, assinalada na “ontologia fundamental”, através da consideração da maneira fenomenológica do “modo do ser se