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APRESENTAÇÃO 1. A Época Geoffrey Chaucer começou a compor Os Contos de Cantuária no ano de 1386, ou seja, há precisamente seiscentos anos atrás. Naquela época, a Inglaterra era um país misto, meio insular e meio continental, e seus reis tinham, às vezes, interesses até maiores no solo francês do que na própria Grã-Bretanha. Tal situação, advinda da conquista normanda levada a efeito por Guilherme-o-Conquistador em 1066, prolongou-se por todo o período Angevino, ou Plantageneta, e terminou apenas em 1453, quando a Guerra dos Cem Anos chegou ao fim. Nem todas as preocupações dos soberanos ingleses, porém, se prendiam aos seus territórios continentais e à ambição de preservá-los ou ampliá-los. Outros problemas solicitavam igualmente a sua atenção, tanto no conjunto do universo europeu, – como as disputas com a Igreja de Roma, – quanto na parte exclusivamente insular do reino, – como os duros conflitos com o País de Gales e a Escócia, e os atritos com os “barões”, os nobres que pretendiam delimitar o poder da coroa a fim de aumentarem o seu próprio. À medida em que a nação rompia esses elos com o mundo exterior (perdendo as possessões francesas e amenizando a sujeição a Roma) e equacionava as suas questões internas, ia adquirindo consciência de sua insularidade e de sua identidade, e preparando-se para os esplendores da era Tudor, que marcaria o início da Inglaterra moderna. Foi no século XIV, o século de Chaucer, que esse processo evolutivo se acelerou, sobretudo nos aspectos referentes à luta do trono com a aristocracia e ao confronto com a França. A luta dos reis com os “barões”, por exemplo, alcançou então seus momentos mais dramáticos, quando não trágicos, pois acarretou a deposição e a morte de dois monarcas, Eduardo II e Ricardo II. E, entre um e outro, reinou Eduardo III (1327-1377), o qual, para granjear a simpatia dos nobres, não só lhes concedeu vários dos privilégios que reivindicavam, não