letras
António Feliciano de Castilho
BD
Biblioteca
Digital
Colecção
CLÁSSICOS
DA LITERATURA
PORTUGUESA
Poesias António Feliciano de Castilho
pág.
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Convite para a Felicidade
Ditoso, Júlia, ditoso, quem livre de inquietação come os frutos que semeia, e dorme no seu torrão; que desconhece das cortes intriga, esperança e receios, que julga acabar-se o mundo, onde acabam seus passeios.
Penúria e riqueza ignora, dois escolhos da virtude, e tira do seu trabalho bens, prazer, vigor, saúde.
De iguais rodeado vive, e só tem por superior seu Criador no outro mundo, na paróquia o seu pastor.
As aras jamais incensa de Astreia, Minerva ou Marte, mas Baco e Pomona e Ceres lhe riem de toda a parte.
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Poesias António Feliciano de Castilho
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Mais apertado não vive na avita cabana herdada, que o rico em salões de estuque, de alta, soberba fachada.
Em vez de jardins estéreis, faz consistir seu prazer em lhe à porta verdejarem as couves que fez nascer.
Dorme em colmo um sono inteiro, enquanto, em doirado leito, o nobre se volve, e geme, de aflição ralado o peito.
Ao lado lhe dorme a esposa, fiel, inocente e bela; o filhinho, imagem sua, dorme em paz ao seio dela.
Se ela lhe diz: – eu te adoro, eu te amarei toda a vida! – de ser verdade o que escuta nem um momento duvida.
Sabe que a fé, que a virtude, virtude pura, ilibada, dons mais belos que a beleza, são numes da sua amada.
Ela não vive no meio da corrupta mocidade, que adorna, envenena, empesta, das cortes a sociedade.
Não quer brilhar nos passeios, nem de mil adoradores vai disputar nos teatros os suspiros e os louvores.
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Poesias António Feliciano de Castilho
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Passa a noite ao pé do esposo, entre os filhos passa o dia, o trabalho a ocupa sempre: ser infiel