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Óleo sobre tela - Théodore Géricault
Antes do Titanic, houve um naufrágio que, tragicamente, entrou para os anais dos grandes desastres marítimos.
Foi a notícia mais terrível de 1816: a fragata Medusa naufragara quase no fim da sua viagem entre a França e o Senegal.
A tragédia, ocorrida na ensolarada manhã de 2 de julho, deveu-se à superlotação e à imperícia do Comandante Hugues Chaumareys, um protegido de Luís XVIII, rei da França.
Sabe-se que aproximadamente quatrocentos passageiros estavam à bordo, na então considerada a mais rápida e moderna embarcação de todos os tempos.
As 147 pessoas que não conseguiram lugar no botes salva-vidas amontoaram-se em uma pequena jangada construída precariamente com tábuas, cordas e partes do mastro no qual ainda tremulavam pedaços da vela.
Chamaram-na "A balsa da Medusa".
Esfomeados e sem água para beber, muitos brigaram por um único pacote de biscoitos.
Na escuridão da primeira noite, vinte dos que se equilibravam nas bordas da jangada desapareceram no oceano.
No segundo dia, 65 dos sobreviventes foram mortos a tiros pelos oficiais: aparentemente haviam enlouquecido e, furiosos, tentaram destruir a jangada.
Dentre os náufragos famintos, desidratados e queimados pelo sol, estava o médico Jean-Baptiste Henry Savigny, que assumiu a liderança dos desesperados e, de imediato, mandou que todos bebessem água do mar diluída com urina, para diminuir os efeitos da desidratação.
O Dr. Savigny começou, então, a dissecar os corpos dos que iam morrendo e a dependurar as tiras de carne para secar ao sol e depois serem consumidas como alimento.
O tabu do canibalismo desfez-se como nas palavras de Dante, no canto XXXIII do Inferno, ao descrever a cena em que o Conde Ugolino, preso numa torre, com os seus filhos pequenos e sem alimento, tentou manter-se vivo comendo a carne dos que haviam morrido: “Dois dias após a sua morte ainda os chorava, depois a fome foi mais forte do que o luto.”
Decorridos