Kaspar
29:131-139, 1985.
RESENHAS/REVIEWS
Rafael Eugênio HOYOS-ANDRADE*
BLIKSTEIN, Izidoro — Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade. São Paulo, Cultrix-Edusp, 1983.
98. p.
Este pequeno livro constitui um comentário semiótico-filosófico do filme de Werner Herzog e, ao mesmo tempo, um denso tratado de semiologia e uma interessante e inovadora proposta epistemológica. A preocupação fundamental do Autor é, sem dúvida, epistemológica; é ele mesmo quem o diz no último parágrafo do Capítulo I: " . . . trata-se da relação entre língua, pensamento, conhecimento e realidade. Até que ponto o universo dos signos lingüísticos coincide com a realidade "extralingüística"? Como é possível conhecer tal realidade por meio de signos lingüísticos? Qual o alcance da língua sobre o pensamento e a cognição? " ( p . 17). É, portanto, uma preocupação epistemológica centrada na problemática relação entre linguagem e conhecimento da realidade. O filme de Herzog, ou melhor ainda, a enigmática figura de Kaspar Hauser (o jovem que, por misteriosas razões não desvendadas até agora, só aprende a falar aos 18 anos) é o estímulo para as interessantíssimas, porém polêmicas reflexões e conclusões do Professor Blikstein.
O Capítulo I — Kaspar Hauser e o deciframento do inundo é uma "leitura" semiológica do filme, uma tentativa de mostrar o porquê da indecifrabilidade da paisagem em que aparece colocado o personagem. Segundo o A. a linguagem parece não ser suficiente para "dissolver o permanente mistério e a perplexidade do olhar de Kaspar Hauser", provavelmente, "porque a significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação lingüística com que o recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria percepção/cognição da realidade" (p.17). Estas palavras deixam-nos já entrever o discutível posicionamento final do Autor.
Mais claramente aparece este ponto de vista no último parágrafo do Capítulo IISigno, significação e realidade. Depois de