KASPAR HAUSER: DE UMA CADEIA A OUTRA
Cadernos de Semiótica Aplicada
Vol. 7.n.1, julho de 2009
KASPAR HAUSER: DE UMA CADEIA A OUTRA1
KASPAR HAUSER: FROM ONE PRISON TO ANOTHER
João Carlos Cattelan
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
RESUMO: Este estudo tem como objetivo fazer uma análise, dentre outras tantas possíveis, do filme
O Enigma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog, produzido na Alemanha em 1974. Para um comentarista do filme, o diretor propõe ao espectador um questionamento sobre se seria possível civilizar alguém que tenha tido contato com uma determinada cultura fora do tempo previsto.
Defende-se, aqui, que não é esta a problemática com a qual Herzog2 está às voltas: entende-se que o diretor efetivamente realiza uma reflexão de caráter sociológico, visando a demonstrar que o percurso percorrido pelo protagonista (e pelos homens em geral) o leva de uma cadeia a outra. Uma delas, a primeira (uma cadeia física, espacial e material), limita os passos a serem dados e as figuras geométricas a serem desenhadas com o movimento corporal; a outra, a segunda (uma prisão simbólica calcada em condições de verossimilhança), limita as opções de valores que se pode ter e os princípios axiológicos que se devem partilhar. Acredita-se que a primeira prisão, visível na seqüência de fotogramas que alcança o olho do espectador, refere-se à construção de uma série de “metáforas” destinada a ser sobre-determinada pelo efeito de sentido de que a prisão sobre a qual efetivamente se
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Embora haja um estilo relativamente canônico com que um texto do tipo científico é apresentado, em geral contendo uma seção que arrebanha alguns dos aspectos teóricos que o sustentam, vou me permitir apenas fazer referência aqui aos autores com quem julgo ter os maiores débitos para a realização deste trabalho. São eles:
Pierre Bourdieu (1999), para quem a sociedade se pauta num conjunto de pressupostos imperativos, que se abate sobre todos e limita suas