justiça com as próprias mãos
Por Hermes C. Fernandes
Eu tinha meus nove anos, e lembro-me perfeitamente da sensação de pavor que sentia cada vez que caminhava de minha casa em Quintino para o curso de datilografia em Cascadura, subúrbio carioca, e me deparava com as manchetes dos jornais com reportagens sobre o Mão Branca. Era raro um dia em que não houvesse notícia de execuções de bandidos amarrados em postes e com um bilhete deixado por alguém que se fazia chamar de Mão Branca. Para uns, herói justiceiro. Para outros, bandido cruel. Tempos depois, descobriu-se que aquele personagem jamais existiu. Membros da própria polícia eram os responsáveis pelos assassinatos fartamente noticiados e que visavam aterrorizar e coibir o avanço da criminalidade durante o tempo da ditadura. Sem que os meliantes tivessem a chance de serem julgados e de apresentarem ampla defesa, eram sumariamente executados. Quantos inocentes não foram vítimas desses justiceiros?
Décadas depois, a cidade do Rio de Janeiro é cenário de mais um ato bárbaro capaz de nos remeter a um tempo do qual preferiríamos nos esquecer. Um adolescente de dezesseis anos, negro e pobre, é amarrado nu a um poste e linchado por um grupo de rapazes. Parte de uma de suas orelhas é decepada. Apesar de ter passagem pela polícia por roubo e violência, aquele jovem merecia ser conduzido às autoridades, julgado e punido com o rigor da lei.
Tão logo se noticiou o fato, as redes sociais ficaram entupidas de comentários, alguns a favor, outros contra. Antes que a poeira se assentasse, a jornalista Rachel Sheherazade, âncora do SBT, resolve fazer um comentário, no mínimo, infeliz sobre o episódio. Suas críticas ao Estado omisso, à polícia desmoralizada e à Justiça falha são justas. Mas chamar aquele linchamento de "legítima defesa coletiva" é um insulto ao bom senso. Ao término de seu comentário, Sheherazade deixa um recado irônico aos defensores dos Direitos Humanos "que se apiedaram do