Jonathan Safran Foer: ‘Extremamente alto & incrivelmente perto’
Por SÉRGIO RODRIGUES
Não se pode dizer que o americano Jonathan Safran Foer não seja corajoso. Incensado pela crítica ao estrear no romance em 2002, aos 25 anos, com um relato pouco ortodoxo em torno do Holocausto chamado “Tudo se ilumina” (Rocco, tradução de Paulo Reis e Sérgio Moraes Rego, 368 páginas, R$ 48), Foer – que virá à Flip – construiu seu segundo livro ao redor de mais um grande trauma coletivo. Desta vez, porém, a ferida está bem mais perto de casa, tanto no tempo quanto no espaço – daí se falar em coragem, embora não falte quem fale também em oportunismo. Inevitável. “Extremamente alto & incrivelmente perto” (Rocco, tradução de Daniel Galera, 392 páginas, R$ 47) é conduzido pela narração de um menino brilhante de 9 anos, Oskar, que sofre com a perda de seu pai no ataque terrorista ao World Trade Center. A prosa inventiva de Foer, recheada – e não raro, convenhamos, entulhada – de jogos de linguagem, às vezes parece pesada demais para a criança que a enuncia, mas nem sempre. No fragmento abaixo, Oskar soa absolutamente convincente enquanto ouve as mensagens que seu pai deixou na secretária eletrônica na manhã do atentado.
Uma infinidade de tempo depois, saí da cama e fui para o armário onde guardava o telefone. Não o havia retirado dali desde o pior dos dias. Era simplesmente impossível.
Passo muito tempo pensando naqueles quatro minutos e meio entre eu chegar em casa e o Pai ligar. Stan passou a mão no meu rosto, coisa que ele nunca tinha feito. Peguei o elevador pela última vez. Abri a porta do apartamento, larguei minha mochila e tirei meus sapatos como se tudo estivesse uma maravilha, porque não sabia que na verdade tudo estava horrível, e como poderia saber? Fiz carinho no Buckminster para mostrar que amava ele. Fui ao telefone checar as mensagens e escutei uma depois da outra.
Mensagem um: 8h52 da manhã.
Mensagem dois: 9h12 da manhã.
Mensagem três: 9h31 da manhã.