JOAQUIM NABUCO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA DA POLÍTICA INTERNACIONAL
Em 1937, Edward Carr, considerado um divisor de águas na construção da disciplina de relações internacionais, afirmou em seu texto Vinte Anos de Crise que os episódios que tomaram lugar na história entre 1914-18 puseram fim à opinião de que a guerra era um assunto que afetava somente os soldados profissionais, colocando em xeque, ao mesmo tempo, a concepção de que a política internacional poderia ser deixada com segurança na mão dos diplomatas. A conclusão era que o processo de popularização das relações internacionais imposto pela tragédia decorrida do relacionamento entre os países europeus obrigava o nascimento de uma ciência (Carr, 2001, p. 4). Esse novo conhecimento "maduro", nos dizeres de Carr, teria como característica principal um maior pragmatismo, porque seria mais objetivo e realista.
Essa corrente realista das relações internacionais, sedimentada por Hans Morgenthau anos depois com o texto A Política entre as Nações, relegou a um segundo plano grande parte do que nas décadas anteriores havia sido pensado sobre as relações internacionais. A crítica era feita a três grupos distintos: os juristas, os historiadores e os idealistas. O primeiro grupo era essencialmente legalista e não compreendia as razões profundas pelas quais os acontecimentos tendiam a não se adequar às diretrizes do direito internacional. O segundo seria excessivamente descritivo e pouco analítico. Sua preocupação com a narração dos meandros diplomáticos, com as características biográficas dos decisores governamentais, negligenciava a construção teórica fundamentada para explicar de maneira sistêmica os acontecimentos, não os considerando simplesmente como um amontoado de acontecimentos. Inegavelmente o grupo mais combatido, no entanto, foi o dos idealistas liberais do início do século XX. Vista como a expressão maior dos vícios em política internacional, essa corrente buscaria a manutenção da paz mundial sem levar