Japiassu
A obra pretende demonstrar, através de uma análise do caminho que as ciências humanas vêm atravessando desde seu advento até à contemporaneidade, que a expressão que as designa encerra uma dupla farsa : a pretenção de serem ciências e a de serem humanas. O autor denuncia a ausência do homem, tanto como sujeito quanto como objeto, nesse fenômeno: como sujeito, deve omitir-se, calar-se, deixar que o discurso fale por si; como objeto, é apenas afirmado a propósito de algo ou como meio de algo. Ele conclui que ao se alijarem da filosofia, as ciências humanas iniciaram um processo crescente de desantropologização que as levou ao ponto de perderem o caráter de humanidade. Japiassu propõe que elas renunciem à ciência, e, se tornem um ”conjunto de equipamentos tecnico-metodológicos”, com o objetivo de intervirem e transformarem os horizontes da ação humana e dos comportamentos sociais.
LIVRO I
O problema exposto no livro I é o da gênese da ciência moderna, isto é , da sua origem e desenvolvimento. A história da ciência tem seguido duas correntes opostas: uma ,orientada pela posição externalista , que considera que os acontecimentos científicos estão condicionados a interesses sociais, ideológicos e econômicos ; a outra, internalista, que desvincula a ciência do meio socio-cultural , considerando-a um processo independente. O autor opta claramente pela primeira situação, contestando a neutralidade e a transparência do discurso científico, e, desafiando seu caráter definitivo. Insurge-se contra o discurso epistemológico idealista que faz uso generalizado da palavra ciência, como se se tratasse de um fenômeno único, transcendental e intemporal. Em sua opinião tal fenômeno não existe, havendo antes uma pluralidade e disparidade de práticas científicas. As ciências humanas teriam nascido em oposição à ciência anterior que apresentava o mundo como um cosmo hierarquicamente ordenado, cabendo à terra o centro do universo. O