Iracema e o mito sacrificial
Se Portugal tinha uma origem gloriosa derivada de atos heróicos de personagens históricos atestada pela literatura, o Brasil também queria ter a sua. Contudo, não poderia ser o mesmo tipo de herói a construir nossa história. Com esse sentimento, o indianismo se desenvolve no Brasil: na busca pelo herói nacional que teria dado origem à nossa pátria, nasce o mito indianista.
É importante ressaltar que a escolha do índio como herói nacional em vez do negro se dá por diversos motivos políticos, econômicos e religiosos: a desumanização do negro e a crença de que o negro não era passível de salvação divina, eram discursos extremamente convenientes em um período de escravização como esse, porque evitam que a coletividade se mobilize em favor do estigmatizado.
Dito isso, retomando a questão do contexto em que nasce o indianismo brasileiro, cabe dizer que este contexto explica e justifica muitas das características da literatura a que dá origem: a tentativa de descrever a cultura indígena, a idealização do índio, da forma como a nação foi construída, o uso da linguagem indígena (que indica a valorização do que é nacional), a valorização da natureza local, etc. É nesse ponto que, em certa medida, a nossa literatura nacional se distancia da européia: buscando a sua identidade.
Contudo, o texto crítico Um mito sacrificial: o indianismo de Alencar, de Alfredo Bosi, afirma que, apesar das características inegavelmente brasileiras, e além da referência óbvia à forma de construção de mitos portugueses (que busca seus heróis no passado), o indianismo de Alencar (especificamente) importa da Europa os modelos de interações sociais, políticos, econômicos e históricos que embasam seus enredos, contrariando a história da colonização portuguesa no Brasil.
Segundo Bosi, era de se esperar que uma