O xangô de baker street
Ano I, Nº 1, Junho/2010
Não há Pecado ao Sul do Equador: Histórias de Amor Construindo o Brasil
Ana Claudia Aymoré Martins Universidade Federal de Alagoas
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Para Renato Cordeiro Gomes Resumo O artigo trata das relações entre a construção simbólica da identidade nacional no Brasil e as histórias de amor que perpassam três textos literários – a Iracema, de José de Alencar, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e O Xangô de Baker Street, de Jô Soares – analisando-os à luz de eixos dominantes do discurso cultural brasileiro, como os da cordialidade, da decadência, da mestiçagem, da originalidade e da subversão às normas. Palavras-chave: nação, identidade nacional, literatura brasileira, história cultural, Brasil Abstract The article concerns possible relations between the symbolic construction of national identity in Brazil and the love stories that go through three literary texts – José de Alencar’s Iracema, Aluísio Azevedo’s O Cortiço and Jô Soares’ O Xangô de Baker Street – enlightening the reading with some of the dominant axis of Brazilian cultural discourse, such as cordiality, decay, miscegenation, originality and subversion of the standards. Key words: nation, national identity, Brazilian literature, cultural history, Brazil
Misturação e preconceito
“Ocê tem buniteza E a natureza foi quem agiu Com esses óio de índia Curare no corpo Que é bem Brasil Tu é toda Bahia É a flô do mucambo Da gente de cô Faz do amor confusão Numa misturação Bem banzeira e inzoneira Que tem raça e tradição” Bororó: “Curare”
Em outubro de 1940, o “cantor das multidões” Orlando Silva lançava mais uma canção que rapidamente se tornaria sucesso popular: o choro estilizado “Curare”, de autoria de Alberto Simoens (Bororó). Primeiro grande astro da música brasileira a surgir após a invenção do microfone, Orlando era acusado por seus opositores de ser “americanizado”, devido à influência do jazz norte-americano (e de Bing Cosby em particular) nos arranjos de