Interpretação textual
Nun e Rá
1 Nun, deus sombrio, dorme numa solidão que nada pode perturbar. Ele é a água parada e escura.
2 Nun é a fonte e o princípio do universo, e contém em si todos os elementos que virão a existir.
3 Tudo é imobilidade. Os peixes, os crocodilos e os pássaros, as flores e as árvores, os homens e até mesmo os deuses ainda não existem
4Finalmente Nun desperta e sai de seu torpor. Em torno, não vê nada além dele mesmo. Acha esse estado de solidão absoluta tão tedioso, que resolve agir. Sabe-se capaz de criar tantas coisas!
5 Nun se mexe e o universo começa a se agitar.
6 A primeira coisa que Nun, que é água, cria é a terra. Uma ilha cinzenta, de contornos imprecisos, emerge da planície líquida. Essa terra lamacenta é a terra do Egito. Nascido da água, o Egito viverá da água. O Nilo é seu princípio. Rio divino, ele é a fonte de toda a vida.
7 Nun continua sua obra de criação universal, e o mundo começa a tomar forma.
8 Mas esse começo se desenrola numa atmosfera lúgubre, sem luz plena. Não chega a ser noite, não chega a ser dia. Uma espécie de claridade escura envolve o universo.
9 Nesse crepúsculo primitivo, os elementos tomam seu lugar e se organizam.
10 O ar fica suspenso acima da água e da terra. O céu paira sobre o mundo como se debruçasse sobre ele. Nun trabalha sem cessar. Ele chama os deuses à vida.
11 Em algum ponto sobre a água primordial flutua um lótus. Um magnífico lótus com as pétalas de sua flor fechadas voga nas águas do Nilo. De repente, uma luz viva, a primeira do mundo, brilha bem dentro do cálice da flor. Cada vez mais forte, a luz obriga as pétalas a se abrir. Elas resistem um pouco, mas não podem suportar por muito tempo o assalto dessa luz. A flor do lótus por fim se abre, e o jovem deus-sol – Rá (ou Ré) – se eleva de dentro dela e ilumina o mundo, que conhece enfim a claridade, as cores e o tempo.
12 E todas as noites Rá, o deus-sol, torna a se instalar no fundo da flor do lótus, que fecha, então,