Intermitências da morte
Uma alegoria é um tema artístico ou uma figura literária que permite representar uma ideia abstrata através de outras formas, podendo estas ser humanas, animais ou objetos, a alegoria abre um intervalo entre forma sensível e a ideia. A personificação consiste em atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais sentimentos ou ações próprias dos seres humanos.
Como realidade invisível, porém implacável, a morte é o centro dos dois núcleos que constituem o romance de José Saramago. Ela inicialmente se configura como uma realidade, embora visível, cuja real importância só chega à consciência dos seres humanos quando ela decide parar de matar da passagem de um ano para o outro, como visto em “No dia seguinte ninguém morreu” (SARAMAGO, 2013, p.11). Neste trecho é possível identificar a alegoria de um ser individual que é atribuído características de um ser com magnitude metafórica. Sua ausência se revela em um espaço sem nome e não datado, apresentando catástrofes, mesclando situações que seriam realidades caso os homens não morressem.
Embora, fosse o desejo de todo homem não morrer, a morte se tornam um problema para vários setores da sociedade “É natural costume é morrer, e morrer só se torna alarmante quando as mortes se multiplicam, uma guerra, uma epidemia” (SARAMAGO,2013,p.16). Por um lado as pessoas faziam festa e por outro havia um lado de descontentamento dos setores comerciais como a empresas funerárias que se deparam com a falta de matéria prima; setor ameaçado pela primeira vez na história da humanidade, assim como hospitais com grande número de pacientes terminais, companhias de seguros e abrigos de idosos.
A morte vai transfigurando como ser humanizado no momento em que uma carta de cor violeta é entregue de forma misteriosa ao diretor-geral, que comunica ao primeiro ministro sobre o