Intermitências da Morte
A obra As intermitências da morte, de José Saramago, inicia com a seguinte frase: “No dia seguinte ninguém morreu.” E prossegue a narrativa com a descrição dos fatos que ocorreram após a morte, ter deixado de prestar os seus serviços à comunidade local de um determinado país, a partir do primeiro dia do ano. A morte fica "suspensa", "parada", "sem ação" por sete meses.
A escolha do autor pela temática da morte é que origina todo o encadeamento da narrativa. Embora esse tema já tenha sido profundamente explorado por diversos autores, Saramago leva o leitor a refletir o seu aspecto contrário, isto é, o não morrer. O que a princípio pode ser visto como a tábua de salvação para todos os males, o autor revela o outro lado da moeda, isto é, todos os problemas que ela, a tão temerosa morte causaria, se deixasse de prestar os seus funestos serviços.
No desenrolar dos diferentes fatos ocorridos no país fictício, o autor vai revelando que a morte apesar de ter sido acusada de “impiedosa, cruel, tirana, malvada, sanguinária, vampira, imperatriz do mal, drácula de saias, inimiga do gênero humano, desleal, assassina, traidora, serial killer...”, ela é, o que poderíamos dizer, um verdadeiro mal necessário.
Para contar essa fantástica história em que, a morte, sem deixar qualquer tipo de explicação ou aviso, simplesmente não cumpre mais sua missão de retirar a vida dos seres humanos, o autor praticamente divide a sua obra em duas partes.
Na primeira parte, o narrador relata os principais acontecimentos que ocorreram no país fictício, após a morte ter cessado suas atividades, e todos os desdobramentos que tal fato propiciou. Esta parte do livro é também uma dança em torno desses dois clichês. A morte não mata, a morte mata outra vez. Saramago começa por mostrar como a ausência da morte não significa uma benesse para os vivos. Significa um inferno para os vivos - um estádio em suspenso onde as estruturas políticas,