Infância, religião e mal-assombro no Nordeste brasileiro
Rodrigo Otávio Serrão Santana de Jesus
Mestrando em Sociologia pela UFPB e professor mediador do curso de Pedagogia da UFPB Virtual. (rodrigoserrao@hotmail.com)
PIRES, Flávia Ferreira. Quem tem medo de mal-assombro? Religião e infância no semiárido nordestino. Rio de Janeiro; João Pessoa: UFPB, 2011, 278pp.
Em Quem tem medo de mal-assombro, Flávia Pires (antropóloga e professora da UFPB), realiza uma ampla pesquisa etnográfica acerca do processo de tornar-se adulto e, consequentemente, de tornar-se pessoa religiosa, na cidade de Catingueira, localizada na região do semiárido nordestino. Em seu percurso, a pesquisa se volta ao fenômeno do mal-assombro e a seu papel no processo de cristianização dos catingueirenses. A pesquisa também aponta para a diferença entre a percepção de mal-assombro e da religião entre a criança e o adulto e como as diferentes faixas etárias das crianças acentuam essa diferença e afetam sua percepção.
O livro é o resultado de uma tese de doutorado, defendida em 2007 no Museu Nacional/UFRJ, que contou com treze meses de trabalho de campo, sob orientação do professor Otávio Velho. É de Velho o prefácio que destaca a importância da pesquisa e a sensibilidade empenhada no trabalho, ao ressaltar que: "já aí se revela o seu talento de pesquisadora, atenta às idas e vindas do trabalho de campo, [...] capaz de mobilizar todos os recursos disponíveis para tratar de tema da infância, [...] mui pouco explorado na literatura antropológica" (:13). A orelha do livro foi escrita pela professora Léa Freitas Perez afirmando que o livro ecoa o convite feito por Michel Leiris em Le Sacré dans la vie quotidienne, "a entrar no mundo do sagrado infantil".
A escolha da cidade remete ao passado da pesquisadora quando fora visitar a cidade natal de seu pai (Catingueira) aos oito anos de idade. Em Catingueira, ela teve uma experiência misteriosa com um elemento inexplicável, que