Imprensa brasileira por Ana P. Goulart
Alia Pallla GOlllart Ribeiro
Continuo acreditando que, num determinado momento, jornalismo e política se confundem, se completam, se juntam indissoluvelmente. (Hélio Fernandes, PN, 20/8/1957)
No Brasil, durante muito tempo, jornalismo e literatura se confundiam.
Até a segunda metade do século XX, o jornalismo era considerado um subpro duto das belas artes. Alceu Amoroso Lima o definia como "literatura sob pres são". Muitos jornalistas eram também ficcionistas. Devido à ausência de mer cado editorial forte, os escritores tinham que trabalhar em outras ocupações para garantir sua sobrevivência. O jornalismo, como a atividade mais próxima - que nesse momento permitia o livre desenvolvimento dos estilos pessoais -, era uma escolha natural para muitos deles.
EmuJos Hisuiricos,
Rio de Janeiro, nO 31, 2003, p.
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estudos históricos
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Os periódicos brasileiros seguiam então o modelo francês de jornalismo, cuja técnica de escrita era bastame próxima da literária. Os gêneros mais valo rizados eram aqueles mais livres e opinativos, como a crônica, o artigo polêmico e o de fundo. Os jornais, além disso, funcionavam como uma instância funda mental de divulgação da obra literária e de construção de reconhecimento social dos escritores. Era sobrerudo através do folhetim que os leitores tomavam conta to com os autores e seus trabalhos.
Por outro lado, eram também muito estreitas as relaçôes do jornalismo com a política. Até a década de 1940, a maioria dos diários era ainda essencial mente instrumento político. Pequenos em termos de tiragem e de recursos eco nômicos, os jornais eram acima de tudo porra-vozes do Estado ou de grupos po líticos que os financiavam em parte ou na totalidade. A imprensa era ainda essen cialmente de opiniao e a linguagem da maioria dos jornais era em geral agressiva e virulenta,