Impacto da participação das mulheres na evolução da distribuição de renda do trabalho no brasil
Luiz Guilherme Scorzafave
Da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP/RP
Naércio Aquino Menezes-Filho
Do Ibmec São Paulo e da USP/SP
Este artigo avalia o efeito do aumento da participação feminina na evolução da desigualdade de renda do trabalho no Brasil. Para isso, estimam-se modelos de participação das mulheres em 1982 e em 1997 e simula-se como seria a desigualdade de renda se as características observáveis ou os retornos a essas características tivessem permanecido constantes no período. Conclui-se que as alterações nos coeficientes da equação de participação — principalmente os das variáveis idade, regiões e número de filhos — foram as que mais contribuíram para reduzir a desigualdade da renda do trabalho entre 1982 e 1997.
1 INTRODUÇÃO
O forte processo de inserção feminina no mercado de trabalho brasileiro nos últimos 25 anos ocorreu em um período de acentuadas transformações estruturais da economia brasileira. A primeira metade da década de 1980 foi marcada por um processo de ajustamento externo e por taxas crescentes de inflação. Na segunda metade dos anos 1980, diversas tentativas de estabilização dos preços fracassaram, de modo que a taxa de inflação mensal chegou a cerca de 80% em março de 1990. Já os anos 1990 se caracterizaram por um processo de abertura da economia e privatizações de empresas estatais. Após 1994, o Plano Real assegurou o início do processo de estabilização da economia. Apesar da profusão de fenômenos econômicos, a distribuição de renda brasileira permaneceu elevada e praticamente constante no período [Barros, Henriques e Mendonça (2000)]. Apesar dessa estabilidade, podemos nos perguntar se a forte inserção das mulheres no mercado nesse período — apontada, entre outros, por Scorzafave e Menezes-Filho (2001) — teve algum efeito sobre a evolução da distribuição da renda no Brasil. De outro modo, queremos