imigra o e a questao racial no brasil
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imigração
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e a questão racial no Brasil
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GIRALDA SEYFERTH
GIRALDA SEYFERTH é professora do
Departamento de
Antropologia, Museu
Nacional – UFRJ.
REVISTA USP, São Paulo, n.53, p. 117-149, março/maio 2002
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O presente trabalho procura mostrar a influência da idéia de raça sobre os princípios que embasaram a política de colonização no Brasil e as controvérsias relativas ao nucleamento de estrangeiros em colônias agrícolas no Sul – região onde ocorreram duas revoluções de implicações separatistas no século XIX – e seus reflexos no discurso sobre nacionalização, especialmente, mas não exclusivamente, no Estado
Novo, período de desqualificações mais radical das diferenças de natureza étnica e cultural, imaginadas como ameaça à unidade do Estado-Nação.
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questão racial estava subjacente aos projetos imigrantistas desde
1818, antes da palavra raça fazer parte do vocabulário científico brasileiro e das preocupações com a formação nacional.
Desde então, a imigração passou a ser representada como um amplo processo civilizatório e forma mais racional de ocupação das terras devolutas.
O pressuposto da superioridade branca, como argumento justificativo para um modelo de colonização com pequena propriedade familiar baseado na vinda de imigrantes europeus – portanto distinto da grande propriedade escravista – foi construído mais objetivamente a partir de meados do século
XIX. Menos evidente nas leis e decretos relativos à colonização, o conteúdo racista está presente, sobretudo, na discussão da política imigratória articulada ao povoamento e na externalização nacionalista dos problemas de assimilação especificados através das probabilidades do caldeamento racial. Ambas as discussões são significativas quando envolvem a colonização européia efetivada no Sul durante mais de um século – num contexto de povoamento em que os imigrantes alemães aparecem como