Ideologia e opinião
‘‘Fascista, reaça, petralha, comunalha, machista, opressor, coxinha; vai pra Cuba; vai morar nos Estados Unidos’’. Todos aqueles que se embrenharam algumas poucas vezes em debates políticos, econômicos e sociais decerto já se depararam com tais termos e chavões repetidos ad nauseaum pelos ‘debatedores’, que ainda julgam suas emanações de frases feitas como argumentos irrefutáveis e contenedores de uma verdade na qual apenas os “cegos, manipulados pela mídia, alienados pela Globo fascista/comunista” não são capazes de se ver. A internet é um antro dessas criaturas que disparam seus fatos em todos os lados, a torto e a direito, pois deu voz a esses seres, deu a eles um público de semelhantes para desfilar toda a sua coleção de constatações onde nada é constatado e suas contestações onde nada é refutado. A grande responsável disso é a supervalorização da ideologia, que se tornou uma entidade santa, uma deidade inerrante e onisciente, que escalavra a necessidade de pensar por si próprio. A massa ignara apenas repete indistintamente as palavras exatas espalhadas pelo seu partido ou mentor, num perene fenômeno de ovelhismo onde nem mesmo as mais escancaradas falhas de pensamento são visíveis, onde a única parte útil do cérebro é a de memorizar, enquanto toda e qualquer capacidade cognitiva e crítica cada vez mais é largada num olvido escuro e inescrutável. E quem perde com isso é aquele que quer debater idéias, que quer se usar de argumentos, que quer ouvir antes de ser ouvido, que entra numa discussão proposto a mudar de opinião, a aceitar a derrota. Mas a ideologia é inexorável. Cada vez que hoje se é refutado, se encontram mil subterfúgios para não admitir que o partido errou. A racionalidade está se deixando tornar tacanha, pois esse modelo pronto e previsível da grande maioria dos debates afasta de forma quase irreversível as mentes autônomas. O ancestral ato de pensar