Identidades Sob Suspeita
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IDENTIDADES SOB SUSPEITA: IMPRENSA E
RECONHECIMENTO NO BRASIL
O perigo não está mais nos casos isolados, ele ronda toda a nação. A ameaça representada pelos quilombolas ganha espaço nos principais meios de comunicação brasileiros em 2007.
Reportagens
ocupam impressos, eletrônicos e noticiários televisivos, num bombardeio ao reconhecimento de direitos às comunidades quilombolas. A sociedade é convocada a opinar. Menos do que a busca da opinião, prende-se a atenção a algo terrível que precisa ser combatido. É sobre a possibilidade da “guerra racial” em detrimento da continuidade da nação brasileira que se quer avisar.
Às imagens do perigo e à incitação do medo e da insegurança em torno daqueles que são capazes de se apresentar como quilombolas, correspondem reivindicações de formas de controle social.1 A invocação do perigo, alicerçada na memória histórica acerca dos “perigosos“, própria de dispositivos racistas como os estereótipos raciais (SALES,
2006), funciona como estigma e justifica as intervenções para o restabelecimento da
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CÍNDIA BRUSTOLIN*
RESUMO
O trabalho faz uma relação entre reportagens veiculadas na mídia, em 2007, acerca do pleito por direitos territoriais por parte de grupos negros a partir da identidade de “comunidades remanescentes de quilombolas” e os processos de intervenção nos procedimentos de regularização fundiária de territórios étnicos. Objetiva mostrar que a incitação do medo de um alastramento dos quilombolas, constantemente noticiada pela imprensa, provocou as condições para a instalação de novas instâncias de controle sobre os pleitos dos grupos na esfera administrativa. A coleta de dados foi realizada em jornais de circulação nacional, em procedimentos administrativos no INCRA e por meio de entrevistas com lideranças quilombolas, durante os anos de 2007 a 2009. Conclui-se que os ritos para a garantia de direitos aos quilombolas no
Brasil transformaram